Em
2013, nós vimos como é o espetáculo midiático para o lançamento de um novo
álbum. Em todos os lugares, em todas as mídias, sejam elas tradicionais como
outdoors ou digitais, como as redes sociais, estavam estampadas propagandas
antecipando o novo lançamento de Arcade Fire, Reflektor. Foi um sucesso. Também em
2013, uma das grandes lendas da música, David Bowie, anunciava subitamente o
seu retorno com um novo álbum, The Next Day, gravado totalmente em segredo. O
mundo da música ficou em polvorosa na espera do conteúdo do disco. Agora vemos
o oposto. Isso porque ontem (19), a banda norte-americana Wilco, uma das
maiores do novo milênio, foi além, lançou de surpresa e colocou disponível
ontem mesmo para download grátis em seu site o nono disco da banda, Star Wars –
nenhuma relação com o gato fofinho na capa. Sem um ou dois meses divulgando
singles, fazendo programas de TV, nem nada disso. É música e pronto. E o
resultado é igualmente renovador.
Uma
das bandas mais festejadas das últimas duas décadas, com clássicos como Being
There (1996) e Yankee Hotel Foxtrot (2002) na bagagem, Wilco encontrava-se
claramente na meia-idade: fazendo discos seguros, mas na zona de conforto. Os
três últimos discos (Sky Blue Sky, de 2007, Wilco, de 2009 e The Whole Love, de
2011) são todos bons trabalhos, nos quais a banda, no entanto, não se arrisca
tanto, não tenta experimentar novos sons. Com Star Wars, o espírito aventureiro
e ambicioso – apesar da estratégia de lançamento indicar o contrário – parecem ter
retornado. No decorrer de 11 músicas e pouco mais de trinta e três minutos,
Jeff Tweedy e companhia apresentam um som barulhento e construído em novas
texturas, com experimentos sonoros muito interessantes. A sonoridade vai desde
o glam rock de David Bowie, o psicodélico dos Beatles até o alternativo dos
anos noventa. Uma mixórdia que empolga em todos os momentos.
E
os indícios estão presentes já no primeiro minuto, na barulhenta faixa
instrumental “EKG” e se consolidam na faixa seguinte, “More...”, com guitarras intergalácticas
em um mar de distorções para todos os lugares do ouvido. “Random Name Generator”
é rock guiado por um riff coeso e bem marcado. A banda está funcionando como um
organismo musical vivo e cada pedaço das músicas são, com certeza, resultado de
um trabalho detalhado de ensaios e pura criatividade musical. “The Joke
Explained” segue uma construção lírica dúbia e que soa improvisada e enigmática
– talvez a razão da capa do álbum ter sido um gatinho peludo esteja em algum
lugar por aí.
“Your
Satellite”, de longe a mais longa de Star Wars (passa da casa dos cinco
minutos), tem uma guitarra que soa como o motor de uma viagem espacial, num
ritmo cada vez mais forte e crescente, com o final parecendo uma turbulência
durante o percurso. Depois de tanta guitarra, a acústica “Taste The Ceiling”
apresenta uma sonoridade mais próxima ao Wilco adulto dos últimos três discos. “Picked
Ginger” tem umas reviravoltas bem interessantes e inesperadas, misturando um
riff fixo com solos desconcertados. A primeira balada propriamente dita “Where
Do I Begin” mostra, como sempre, a proeza de uma banda acostumada a fazer
belíssimas baladas, ao menos até, mais uma vez, a música tomar um caminho
inesperado em uma efusão de sons – pena que dura pouco. Mais uma vez Wilco opta
pelo caminho da surpresa, do inesperado. “Cold Slope” tem um ritmo sensual e
dançante bem cadenciado no glam rock dos anos 70. “King of You” serve
praticamente como uma sequência, dando seguimento à cadência da faixa anterior.
A banda finaliza com a bela “Magnetized”, na qual, por um momento, a guitarra é
deixada de lado em favor dos teclados e pianos.
Star
Wars é recebido com aquele ar atordoado, confuso, mas ao mesmo tempo extasiado,
desvendando os mistérios pouco a pouco de um artefato recém-descoberto, afinal,
fomos dormir um dia sem nada e acordamos no seguinte com um dos melhores álbuns
do ano à nossa disposição.
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