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O nome Paul McCartney está marcado na história da música como um dos membros do histórico grupo The Beatles, como todos já sabem. As suas composições e de John Lennon marcaram e continuam a marcar as gerações. Com o fim dos Beatles, em 1970, cada um foi para o seu lado e Paul McCartney acabou por ter a carreira solo mais longa e talvez mais bem sucedida dentre os Beatles, apesar de achar a de John Lennon mais rica, que infelizmente acabou interrompida tragicamente. De qualquer forma, é de sua carreira como artista solo que tem grandes álbuns como Ram, Band on The Run, e, para citar um mais recente, Chaos and Creation in the Backyard, de 2005.
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Kisses on The Bottom, seu mais novo trabalho, soa como um disco dos anos cinqüenta e não de um dos maiores compositores de rock todos os tempos. Dá pra ouvir até uns chiados de disco antigo. Mas isso não é um fator negativo. O álbum, como disse o próprio Paul várias vezes, é muito pessoal, uma jornada através das músicas clássicas americanas, principalmente do jazz e alguns blues, que de alguma forma inspiraram Paul como compositor. Algumas delas ele ouvia enquanto criança, com seu pai tocando ao piano. Há apenas duas faixas de composição de Paul. É um álbum ousado e que várias pessoas mais conservadoras não irão curtir por não ser um “rock album”. Paul McCartney esteve pensando em fazer algo assim há mais de vinte anos e acabou por decidir que se não o fizesse agora, não o faria nunca.
O nome (Kisses on The Bottom) criou certa polêmica, por ser traduzido como “beijo no traseiro”, mas quando se vê a letra de “I'm Gonna Sit Right Down and Write Myself a Letter”, se vê que os beijos são no fundo da carta, como beijos de despedida. Ela, inclusive, interpretada por inúmeros nomes da música, dentre eles Frank Sinatra, é a típica faixa de abertura perfeita para um álbum assim. Jazz puro. Já apresenta o ouvinte ao clima suave e confortável que estará presente no decorrer de suas 14 faixas. Não há melhor descrição do que a do próprio Paul “É um álbum que você escuta em casa depois do trabalho, com uma taça de vinho ou uma xícara de chá“.
“Home (When Shadows Fall)” é uma bela balada, bem orquestrada e acompanhada toda no piano, junto com uns solos delicados no violão. O vocal de Paul McCartney está cada vez mais delicado, cada verso mais suave que o outro. Nem todas as músicas, porém, tem a mesma força das outras, até por ser um álbum relativamente com muitas músicas. Mas com certeza cada uma delas tem sua própria história com Paul e é por isso que estão lá, doa a quem doer. Mas todas tem sua parcela de prazer. “Its Only a Paper Moon” é bem mais simpática e alegre que as outras, com solos e assovios divertidos pela durante a faixa.
“The Glory of Love”, uma das mais clássicas do disco, tem sua dignidade preservada nessa versão. Começa só com o baixo, mas aos poucos vai entrando toda a banda. Todos os arranjos muito bem pensados e postos no momento certo. “Ac-Cent-Tchu-Ate the Positive” e “We Three (My Echo, My Shadow and Me)” são dois outros belos momentos de músicas muito bem tocadas e arranjadas.
“My Valentine”, composição do Paul McCartney e com participação de Eric Clapton, é simplesmente linda. A melodia é tocante, e os solos no violão fazem você fechar os olhos e viajar. “My Very Good Friend the Milkman “ também é bem animada e “Get Yourself a Better Fool”, blues com belos solos de guitarra. “The Inch Worm” tem a participação de Diana Krall e “Only Our Hearts” mostra uma parceria de Paul com Stevie Wonder.
Não é um álbum de rock, nem de jazz, nem de blues. É o álbum de um amante da música prestando homenagem aos seus mestres. É um testamento do passado, que, através de seu legado, transborda de cada uma das músicas. Belo e singelo. Boa jogada, Paul.
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