sexta-feira, 17 de maio de 2013

Resenha Queens of The Stone Age - ...Like Clockwork


A média de vazamento de um álbum é em torno de uma semana antes do lançamento e eles já estão na rede mundial de computadores. A ansiedade em relação ao retorno de Queens of The Stone Age, depois de seis anos, foi tão grande que essa semana, três semanas antes da devida data de lançamento, que é 4 de junho, o álbum ...Like Clockwork finalmente está disponível. O último trabalho de QOTSA havia sido Era Vulgaris, de 2007, que, apesar de ter algumas canções muito boas, é certamente o álbum mais fraco da ótima carreira da banda, que praticamente criou e definiu um novo estilo, o vigoroso stoner rock, com seu som intenso, cheio de riffs de heavy metal inspirados em Black Sabbath unidos em uma construção mais melódica do alternativo dos anos 90. Apesar do longo período sem material novo sugerir inicialmente uma inatividade criativa, esses seis anos foram bem intensos para Josh Homme e, inclusive, importantes, para consolidar a moral do seu grupo, além de sua qualidade como parceiro e compositor. Nesse período, são vários os trabalhos que Homme esteve envolvido com seu toque de Midas e que, consequentemente, influenciaram ao resultado sonoro final que vemos em Like Clockwork, pois, de certa forma, tudo está interligado. Nesse período, Josh Homme deu o pontapé inicial no projeto do bem sucedido super grupo Them Crooked Vultures, em 2009, ano em que participou como produtor do álbum de Arctic Monkeys, Humbug, além de ser uma participação especial no disco Blues Funeral, de 2012, do colaborador de longa data Mark Lanegan, além de alguns outros projetos menores.



Então, esse intensivo de projetos paralelos de Josh Homme acaba por definir Like Clockwork bem antes de sua concepção, afinal, em trabalhos assim, acaba-se sempre cedendo algo, bem como absorvendo novos componentes e estilos, além de ampliar sua rede social de conexão e influência, o que foi de fundamental importância para Homme fechar a equipe principal desse novo trabalho. A lista de convidados especiais é extensa, alguns já cartas marcadas, como Mark Lanegan, outros que já trabalharam com ele antes, mas que causa euforia pelo seu retorno, como é o caso de Nick Olivieri, o baixista louco que ficou peladão no Rock In Rio de 2001 e foi expulso da banda depois de ser processado por agressão domiciliar em 2003, e Dave Ghrol, baterista daquele que é o álbum máximo da carreira de Queens Of The Stone Age. Também tem aqueles que nunca trabalharam, mas que é totalmente natural que apareçam, como Alex Turner, do Artic Monkeys, aqueles que causam surpresa, como Trent Reznor, ex-Nine Inch Nails e aquele que com certeza absoluta você nunca imaginaria que estaria tocando junto com uma banda como QOTSA. Elton John e seu piano aparecem em Like Clockwork. Isso mesmo, a rainha que faltava na idade da pedra.





Não é qualquer um que consegue construir uma equipe dessas. O resultado é um dos álbuns mais ecléticos e diferenciados da carreira de Queens of The Stone Age. São dez músicas que viajam de forma grandiosa por lugares muito bem conhecidos pelos fãs da banda, bem como por paradas inesperadas e cantos inexplorados, o que nem sempre gera boas reações, sobretudo a esquisita “Smooth Sailing”, que completamente destoa do restante do álbum, quase como um Dance que Muse resolveu aderir no último disco, mas que com guitarras bem mais pesadas. De resto, Like Clockwork é somente pontos altos. Vamos explorá-los.

A faixa de abertura “Keep Your Eyes Peeled” já nos (rea)presenta os riff marcados que havíamos sentido tanta falta. A produção de todas as faixas são incríveis, com o som da guitarra estourando e a bateria forte e marcante. A faixa seguinte “I Sat By The Ocean” é, desde a primeira audição, uma das melhores, com tudo o que gostamos do Queens Of The Stone Age clássico, com um riff segurando a música e uns solos de guitarra e um refrão cativante. Lembra sem esforço os melhores momentos de Rated R. 




Enquanto "I Sat By The Ocean" é uma típica música de QOTSA, a próxima, “The Vampyre of Time and Memory”, é totalmente uma nova faceta da banda. Impossível não inferir que não teve a influencia de Elton John nessa tocante balada ao piano. A letra é também uma das mais sensíveis e pessoais de toda a carreira, falando “i want to God to come and take me home, cause i’m all alone in this crowd...”. A música é linda, uma balada tranquila no piano e entrecortada por belos e rápidos solos de guitarra.





A sexy e luxuriosa “If I Had A Tail”, com todos os conselhos sexuais diabólicos e participação de Alex Turner, bem como o antigo baixista Nick Olivieri, tem a levada de uma música de Rolling Stones, bem diferente daquelas perfeitas e insanas gritarias dos primeiros álbuns. A intensa “My God Is The Sun”, primeiro single do álbum e tocada pela primeira vez no Lollapalooza Brasil 2013, é outra segura e confiável música de Queens Of The Stone Age, um hit seguro que tem o melhor da banda. “Kalopsia”, palavra que indica uma condição onde as coisas parecem ser mais bonitas do que elas são, é mais uma que dá para notar um comércio de influências, principalmente nas estrofes, que poderia ser uma música do álbum Blues Funeral, de Mark Lanegan, com uma leve marcação de sample, que é dominada totalmente pela guitarra no refrão.

Enquanto a influência de Lanegan é sentida em “Kalopsia”, é na faixa seguinte, a ótima “Fairweather Friends”, que sua presença é sentida, embora sua voz poderia ter ficado mais alta, bem como a de Trent Reznor e Elton John e seu piano.





O álbum caminha para o final com mais duas ótimas canções, “I Appear Missing”, a mais longa e imediatamente uma das melhores composições do álbum, com um clima bem sombrio, quase suicida, combinando perfeitamente com a animação. Esses vídeos de animação foram todos feitos pelo artista Boneface, que também desenhou a capa do disco. A faixa que dá título ao disco finaliza-o com mais uma balada no piano, com uma letra quase filosófica, sombria e bela.

É o melhor trabalho de Queens of The Stone Age? Não, mas também é muito difícil igualar o nível de álbuns como Songs for The Deaf e Rated R. No entanto, em Like Clockworks mostra exatamente o quão grande e competente a banda é, mesclando momentos de sucesso certo, para ampliar o status de banda de festival, e outros nos quais arrisca novos sons e estilos sem se sentir ameaçada.


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