sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Girls - Father, Son, Holy Ghost


Escutar pela primeira vez um álbum de uma banda que não se conhece é excitante, com todo o mistério que envolve o desvendar de cada música e tudo mais e mesmo que o que se descubra não seja o que você esperava, a simples ansiedade por algo novo é uma sensação boa. Em contra partida, quando o resultado ultrapassa a sua expectativa a ponto de deixá-lo em transe por alguns momentos, quer dizer que aquilo que você está ouvindo é genial, você finalmente foi recompensado.
Essa é a sensação ao escutar pela primeira vez o segundo álbum da banda de São Francisco, Girls, chamado Father, Son, Holy Ghost. A banda é formada principalmente por duas pessoas, homens, ao contrário do que sugere o nome, Christopher Owens, líder e cérebro e JR White. Girls lançaram o primeiro álbum intitulado simplesmente Album em 2009 e imediatamente recebeu aclamação da crítica especializada, tendo inclusive a Pitchfork colocado o single “Hellhole Ratrace”, uma viagem ao melhor estilo de Spiritualized, como um dos 500 melhores singles da década 2000. No ano seguinte, Girls lançou um EP (mais uma vez muito bom) com seis faixas, chamado Broken Dreams Club. Mesmo com esses dois primeiros lançamentos conter vários momentos de genialidade, é em Father, Son, Holy Ghost que eles atingem o ponto máximo ao fazerem o trabalho simplesmente perfeito, que já chama atenção pela capa no mínimo curiosa, que tem as letras de todas as faixas do álbum.
Father, Son, Holy Ghost nocauteia já de forma imediata ouvindo-o isoladamente, mas para completar o ciclo, é muito interessante também conhecer a história por trás da banda, do álbum, e, principalmente, da peça-chave da banda, Christopher Owens, filho de mãe e pai devotos da seita Children of God, movimento religioso criado no final dos anos 60 reacionário aos hippies, pregando salvação, apocalipse e uma revolução espiritual contra o “mundo de fora”. Essa seita religiosa marcou bastante a infância de Owens, criando vários traumas e demônios que ele carrega até os dias de hoje, como sua relação com sua mãe, que deixou seu outro filho morrer de pneumonia por causa da aversão à medicina do Children of God ou por se prostituir na frente de Owens quando estava crescendo. Outro ponto importante para se compreender melhor o som do Girls é a relação de amor e ódio dos seus membros com as drogas, principalmente as derivadas do ópio. Christopher Owens, junkie assumido, fala sobre sua relação com elas abertamente, que é um ponto muito importante no seu processo criativo, que ela o faz se focar mais nas idéias e emoções, mas também que é muito difícil largá-las quando Girls sai em turnê, pois, segundo ele, elas o tornam muito diferente, às vezes agressivo e não sabe por que ele volta a usá-las, mas sempre o faz. Enfim, tudo isso e muito mais está na entrevista sensacional dada a Pitchfork, que você pode conferir neste link.

Mas enfim, vamos voltar a falar de Father, Son, Holy Ghost, que já começa de forma arrasadora com “Honey Bunny”, bem indie rock, com uma batida empolgante, melodia e letra bem legais, que já deixa transparecer a relação de Owens com a mãe. Já deixa o ouvinte com os ouvidos mais atentos quando passa para a seguinte, a ótima “Alex”, igualmente sensacional, com o vocal de Owens transbordando melancolia na forma de cantar, como em várias faixas, sempre com grandiosos solos e trabalhos de guitarras. O momento “lapada” do álbum chega ao seu auge com a quase heavy metal “Die”, com riffs e solos sensacionais, e Owens esbanjando pessimismo na letra. Ele fala na entrevista que "Die" é uma das primeiras músicas que compôs e que ele e JR ficavam horas tocando o riff sob o efeito do ópio até um deles adormecer.
Desde o título, Father, Son, Holy Ghost (Pai, Filho, Espírito Santo), já dá uma idéia bem religiosa que, se não é traduzida nas letras das canções propriamente ditas, permeia totalmente o clima do álbum, que em vários momentos os backing vocals lembram a música gospel americana. Ele faz a junção desse clima sacro com temas como amor, perdas, desesperança, nostalgia, entre outros. O resultado fica majestoso. O primeiro exemplo dessa junção é a tocante “Saying I Love You”, com o ritmo mais alegre que engana, enquanto a letra se revela, ao invés de uma declaração de amor, totalmente triste e desiludida. “My Ma” é um dos momentos mais solenes do álbum, com uma mensagem direcionada para a mãe de Owens, admitindo o quanto precisa dela “Oh god, I'm so lost And I'm here in darkness And I want to see the light of Love I'm looking for meaning in my life And you my Ma”, tudo isso com uma perfeição melódica e musical. “Vomit” é outra épica, com uma letra tão triste que chega a dar pena do autor, quando depois de tudo que ele narra no decorrer da música, no final ele suplica “come in to my heart”. Owens conta que a escreveu quando tinha uma namorada que vivia fora de casa, e ele saia pela cidade desesperado procurando-a. Em “Just a Song” ele sentencia “it seems like nobody’s happy now”. “Love Like a River” é outro ponto incrível do album, meio um blues gospel, que inclusive me recordou um pouco do álbum I’ll Take Care of You, de Mark Lanegan.
Father, Son, Holy Ghost sem dúvida alguma está entre os grandes lançamentos do ano, se não estiver em primeiro. Tenho certeza que estará disputando segundo por segundo o título com Bon Iver, mas, não sei se pela euforia da descoberta, Father, Son, Holy Ghost entra na reta final do ano como o favorito. Amém.

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